Presidente da APM Piracicaba fala sobre pandemia de coronavírus em live

Na última quinta-feira, 30 de julho, o presidente da Associação Paulista de Medicina – Piracicaba, Ricardo Tedeschi, participou de uma live no Facebook promovida pelo vereador Pedro Kawai a fim de debater sobre “A pandemia vista pelos profissionais da Saúde”.

Tedeschi lembrou que, como profissional da área, está sempre em busca de trazer palavras de conforto e incentivo, evidenciando o caráter passageiro da pandemia. No entanto, ele afirmou que é necessário que a população tenha em mente a gravidade e a seriedade de toda esta situação que assola o Brasil e o mundo.

Durante a entrevista, o presidente da Regional mencionou os levantamentos realizados pela APM sobre a percepção dos médicos neste momento de crise. “A pesquisa ouviu cerca de 2.000 médicos do estado de São Paulo e mostra que eles acreditam em subnotificação nos casos, ou seja, muitas pessoas tiveram a Covid, mas não tiveram o diagnóstico porque não procuraram um atendimento médico.”

“Os médicos acreditam que nós estamos vivendo a fase, não é de agora, das fake news e isso prejudicou muito a condução dos órgãos competentes que ajudam no combate à pandemia. Além disso, tem o lado humano e o lado socioeconômico, porque muitos médicos tiveram sua vida afetada, a rotina mudou e há o receio de levar a doença para seus lares”, completou.

De acordo com Tedeschi, neste período em que a pandemia avança, o sistema de Saúde optou por adiar consultas de pacientes que não estão em quadros de doenças graves e priorizou o atendimento daqueles que precisam de um acompanhamento mais amplo por se encaixarem em quadros urgentes, como é o caso de pacientes com câncer.

“Quando as coisas começarem a normalizar e forem retornando, será necessário muita calma e paciência. Será necessário compreensão dos pacientes porque a gente vai sair de um ‘pós-guerra’ e os recursos não serão suficientes para todo mundo. A gente vai ter que ver os casos que oferecem maior risco de vida e lembrar que os recursos são finitos. Durante a pandemia aumentou a demanda de remédios de anestesia, para pacientes que estão em UTIs, causando uma elevação do preço absurda. Por isso, é necessário muita humanização, paciência e empatia para podermos entender que todos os problemas importam”, argumentou.

O bate-papo abordou também está a saúde mental de todos estes profissionais que vêm atuando para ajudar no combate à pandemia. Segundo Tedeschi, a principal sensação entre eles é de insegurança. O próprio presidente da APM Piracicaba mencionou o seu medo de ser infectado e passar o vírus a suas filhas.

“Há, ainda, o estresse de higienizar todas as coisas. Alguns profissionais tiveram a sua saúde mental alterada, estão sentindo uma vulnerabilidade imensa. Foi tudo muito rápido, então eu acho que a angústia de não saber se vamos ou não pegar o vírus mexe muito mais com a gente do que a parte econômica ou as mudanças na rotina.”

Tedeschi entende que, no pós-pandemia, a necessidade de um atendimento psicológico especial para os profissionais da área que atuaram na linha de frente do combate será muito importante. De acordo com o médico, a pandemia aumenta consideravelmente os níveis de estresse, causando burnout e aumentando o uso de álcool e drogas, por conta de uma rotina que os coloca constantemente em situações de alta tensão.

As fake news e a transformação de determinados medicamentos em bandeira política também foi um dos temas abordados durante o encontro. “Os médicos têm que falar e prescrever medicamentos tendo base na ciência. Nós temos três vacinas sendo testadas, duas delas no Brasil e eu acho que é fundamental o nosso País desenvolver a nossa indústria exatamente para isso, para sermos autossuficientes. Temos que valorizar nossos cientistas, pesquisadores e professores, que são pessoas fundamentais dentro da sociedade.”

A conversa foi encerrada com o agradecimento de Tedeschi a todos os colegas de profissão que estão fazendo um trabalho tão rico e humanista diante deste grave momento que o mundo enfrenta. “Eu, humildemente, parabenizo os meus colegas porque não é fácil. Quando eu faço as comparações e metáforas de que estamos em uma ‘guerra’, costumo dizer que as nossas armas são os remédios, as nossas mãos que apalpam os pacientes, e o conhecimento para ajudar ao próximo. Nunca foi preciso um profissional de Saúde se doar tanto para ajudar ao próximo e isso está sendo colocado a prova nesse momento”, concluiu.