Palestra de Piracicaba debate ondas cerebrais

Na última quinta-feira, 23 de junho, a Associação Paulista de Medicina – Piracicaba realizou mais uma palestra voltada para saúde mental, desta vez, com debate sobre o tema “As emoções e as ondas cerebrais”. Com apresentação de Ricardo Araújo, psicanalista e gestor público, o evento foi coordenado por Ana Lucia Stipp Paterniani, psiquiatra e Diretora Social da regional.

“As lives promovidas pela Associação têm o objetivo de levar informação de boa qualidade para nossa comunidade e aproximar nossa regional de toda sociedade, sobretudo com a abordagem de assuntos voltados para a saúde mental, algo que todos nós precisamos”, refletiu Paterniani.

Responsável por abordar o tema, Alessandra Netti, psicóloga e especialista em reabilitação neuropsicológica, iniciou sua apresentação ressaltando que ondas cerebrais ou oscilação neuronal são atividades rítmicas e repetitivas no sistema nervoso central, algo debatido com muita frequência na área da psicologia.

“As ondas cerebrais e as emoções são coisas que vemos e estudamos com frequência e, ao longo de todo meu processo profissional e dentro do olhar da reabilitação, cheguei aos estudos de ondas cerebrais, podendo afirmar que fiquei encantada. Depois de quase 20 anos de atendimento, muitas coisas que aprendi se encaixavam e percebi que várias outras ainda precisam ser descobertas”, relembrou a palestrante.

As ondas são definidas pelos hertz , ou seja, oscilações de onda por certo período. Os hertz também representam a unidade de frequência do Sistema Internacional (SI), correspondendo a 1 segundo, desta forma, quando se trata de 8Hz, significa que a onda oscila 8 vezes por segundo. Sendo atividades que ocorrem de forma rítmica no nervoso central, existem cinco frequências diferentes de ondas cerebrais, sendo elas: Delta (0,5 a 4 Hz), Teta (4 a 8 Hz), Alfa (8 a 13 Hz), Beta (13 a 30 Hz) e Gama (30hz e 70 Hz).

Tipos de ondas

Apesar da existência de diversos e diferentes tipos de ondas, funcionando em conjunto, todas são capazes de formar uma sintonia harmônica em que os pensamentos, as emoções e as sensações podem encontrar um equilíbrio perfeito, com o qual proporciona estabilidade e concentração. Segundo explicou a especialista, as ondas Delta são consideradas as mais lentas do cérebro, sendo produzidas no tronco cerebral e mais comuns em bebês e crianças pequenas.

“Com o passar da idade, as ondas vão diminuindo, por isso há uma maior  quantidade de sono em recém-nascidos, são quando as ondas Delta estão sendo produzidas em altíssima frequência. Esses estímulos estão relacionados à mente inconsciente e, quando se tem níveis em excesso no cérebro, pode ser um forte indicador de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e problemas de aprendizado”, comentou a psicóloga.

A palestrante também ressaltou que o cérebro naturalmente produz todas as ondas, entretanto, dependendo do seu nível de produção, problemas podem ser desencadeados, gerando, desta forma, um cérebro disfuncional. “No mapeamento ou eletro, as ondas Delta também aparecem em áreas lesionadas do cérebro. Em seu grau ideal, favorece e cuida do sistema imunológico, do descanso e da capacidade de aprender.” 

Sobre as ondas Teta, a especialista destacou que ocorrem com mais frequência no sono com sonhos, no sonhar acordado e na meditação profunda, se tornando essencial para a aprendizagem e memória. Em seus picos elevados, podem desencadear depressão e falta de atenção, já em seu estado mais baixo, está diretamente relacionada à ansiedade, estresse e baixa autoconsciência emocional.

Em relação às ondas Alfa, surgem na intermediação, no estado de calma, mas não no sono, apenas no momento de relaxamento consciente. Em grau elevado, causa baixo nível de energia ou falta de atenção necessária para executar uma tarefa. Por outro lado, níveis altos desse tipo de onda indicam um estado de alerta excessivo para casos de ansiedade, estresse e insônia.

Beta e Gama

Dando continuidade à apresentação, Alessandra destacou que os três primeiros tipos de ondas citadas são de frequências mais baixas, ligados a ações cerebrais mais tranquilas. Em compensação, as ondas Beta apresentam condição de vigília, consciência, foco e atenção. “É uma onda longa, um estado que se relaciona com atividades cotidianas, é o que nos faz acontecer, levantar, realizar atividades de rotina e nos deixar em alerta”.

A especialista também pontuou que, em excesso, as ondas Beta causam ao cérebro alta ativação neural, podendo desencadear grandes níveis de ansiedade, já em seu nível baixo, acaba proporcionando quadro de desânimo. “Precisamos muito de ondas beta, pois são elas que farão todas as coisas acontecerem de forma natural. Além disso, seus ótimos níveis nos favorecem, ficamos mais receptivos, concentrados e ajuda nossa capacidade de resolver problemas.”

Finalizando o debate, Alessandra não deixou de citar as ondas Gama, as quais são responsáveis por conectar frequências cerebrais, reunir as informações e alternar momentos conscientes e inconscientes da mente. Suas frequências são acima 38 Hz, com origem no tálamo e se movem a partir da parte posterior para a frente do cérebro, sendo extremamente rápida em estados de felicidade.

A psicóloga também explicou que ondas Gama estão relacionadas com as tarefas de alto processamento cognitiva, capacidade de registrar novas informações, sentidos e percepções. Salientou, ainda, que os estudos têm muito a descobrir sobre este tipo de onda, já que são difíceis de captar mesmo em exames detalhados e eletroencefalograma (EEG).

“Gosto de fazer a comparação de ondas Gama com pessoas de alto QI. Podemos ter Bill Gates como exemplo, era uma pessoa que produzia e registrava muitas informações de forma rápida e, baseado nesta teoria, acredito que pessoas com alto nível de inteligência possam ter uma alta produção ondas de Beta e Gama, por isso conseguem captar e registrar diversas informações com mais facilidade. Conhecer os diferentes tipos de ondas cerebrais nos permite entender nossos processos mentais, as emoções e as atividades que geram picos de energia no cérebro. Todas essas questões estão voltadas para o funcionamento das ondas cerebrais”, concluiu.